Sorrio com nostalgia para a preocupação da minha avó: "se já estávamos prontos", "se o compasso podia entrar", "se chegaria a tempo de irmos à missa", "se o almoço ja estava encaminhado", "se havia alguma coisa na mesa para o compasso", "se não seria melhor tirar o vinho fino para fora, talvez o Sr padre quisesse algum", "todos devem dar um bjinho na cruz"... Tantas preocupações que davam significado ao ritual...
Usava muitas vezes roupa nova na Páscoa... só por ser páscoa....
Recordo as longas missas que antecediam a páscoa...
O meu aleluia preferido era o do final da missa no domingo de páscoa... era cantado a plenos pulmões, com a palavra a encher-me boca e alma de alegria... E durante muito tempo não percebia porque é que este aleluia só se cantava às vezes... era tão mais alegre que os outros.
Recordo as amêndoas, a carne assada, o longo almoço depois da missa...
E depois, vierem as primeiras viagens de estudo nas férias da Páscoa...e assim, devagarinho (aliás, como quase tudo o que faço na vida), o ritual foi deixando de ter significado... foi-se perdendo nas novas actividades e nos novos interesses que preenchiam as férias da Páscoa...
Hoje, e em especial este ano, fico contente com a Páscoa, mas apenas por significar 2 dias sem trabalho que posso passar a estudar.... Sem compasso, sem missa, sem almoço de família, sem roupa nova... mas com algumas amêndoas, ovos, coelhinhos de chocolate... e rodeada de livros e papeis, porque em algum ponto da minha vida a ciência passou a fazer mais sentido do que qualquer ritual religioso...
photo by: cdgabinete, Salon Internationale Agriculture, Paris, February 2009
2 comentários:
Mas só passou a fazer mais sentido a ciência porque já não tens a Vovó a barter-te à porta com aquele anel todos os Domingos. Nunca pensei que o vidro da porta fosse resistir a tanta persistência!!!!
Só para que saibas:
- Tás pá vovó!!!!!!!!!!!!
Ai de ti! Conto-lhe logo o teu engano de dia de ramos!!! ahahahahahahhahahaha
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