quinta-feira, março 15, 2007

Fábula antiga

"No princípio do mundo o Amor não era cego;
Via mesmo através da escuridão cerrada
Com pupilas de lince e olhos de morcego.

Mas um dia, brincando, a Demência, irritada,
Num ímpeto de fúria os seus olhos vazou;
Foi a Demência logo às feras condenada.

Mas Júpiter, sorrindo, a pena comutou.
A Demência ficou apenas obrigada
A acompanhar o Amor, visto que ela o cegou,

Como um pobre que leva um cego pela estrada.
Unidos desde então por invisíveis laços,
Quando o Amor empreende a mais simples jornada,
Vai a Demência adiante a conduzir-lhe os passos."
poema de: António Feijó


imagem: "gentle molding" by Modigliani

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