"É por recearmos decepcionar os outros que embarcamos, tantas vezes, no navio errado. Outra fatalidade: a de ceder, contra a própria vontade, pela simples incapacidade de dizer não. Trata-se de uma fraqueza comum, para a qual não existe outr antídoto senão o exercício, repetido, da recusa, sobretudo quando nos sabemos sem forças, com menos fé ou pouco interesse, numa proposta.
Infelizmente, a nossa subalternidade aos outros é tamanha que preferimos fracassar a declinar um desafio, só para não parecermos cobardes.
Uma coisa é certa: quando se toca em alguém, afectivamente, tudo pode acontecer. Não existem incursões inócuas, ou inconsequentes, à natureza do outro.
Quando comunicamos com ele, ainda que fugazmente, e lhe deixamos uma qualquer impressão, encetamos um processo que, quase sempre, abre um outro, por sua vez dentro de nós. E sempre imprevisível.
Não que esta consciência nos deva tolher os gestos ou tornar desconfiados, mas é bom que conheçamos o poder que temos sobre os outros para nos responsabiliarmos pelos nossos actos, mesmo os mais pequenos, e não perdermos tempo a arranjar bodes expiatórios para justificar o que, tantas vezes, fomos nós a provocar."
In:"Não me contes o fim", by: Rita Ferro
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