quarta-feira, dezembro 27, 2006

Saudosismo - parte II

O meu primeiro contacto com Teixeira de Pascoaes (TP) foi na escola... Já não me lembro em que ano, nem pela mão de qual professora, sei que o que me foi ensinado foi que TP tinha sido o poeta do saudosismo por excelência e que o conceito de saudade escrito por ele tinha um largo espectro... tão largo que abrangia mesmo ter saudades do que nunca se viveu... a saudade era na sua obra algo complexo, holistico e espiritual...
O que invariavelmente eu registei, após uma análise objectiva, como "Mais um poeta completamente fora de órbita... mais um monte de intérpretes de poesia completamente exagerados a ler o que não existe - mas se é o que sai no teste vamos lá elaborar no assunto e escrever 3 ou 4 folhas dignas de boa nota sobre este novo conceito de saudosismo".

Na altura em que estudei TP - para além de não ter qualquer capacidade de sintese e por isso 3 ou 4 folhas de escrita não requeriam esforço absolutamente nenhum - era bastante mais incrédula na subjectividade e todo o sentimento que "resvalasse para a lamechice" para mim era um exagero que deveria ser visto e analisado como tal: "Que estupidez... ter saudade do que nunca se viveu, não faz sentido absolutamente nenhum... que coisa mais disparatada!"

Anos volvidos, as coisas mudaram... e num destes dias, durante um monólogo de corrida, dei comigo a catalogar-me como saudosista no sentido mais lato da palavra...
Para ser mais precisa, dei comigo a ter saudades de algo que se calhar... nunca existiu...
E quanto mais anos passam, mais saudades eu tenho... porque nada vai voltar a ser o que foi... porque se calhar nunca foi o que eu achei que era... por isso, por tudo o que se calhar não aconteceu, por tudo o que eu não consigo interpretar nem catalogar como real ou perfeita ilusão/ desilusão... cresce a minha faceta saudosista...



photo by: cdgabinete; Alentejo; Setembro 2006

1 comentário:

Inês disse...

Um beijo carregado de saudade para ti...*